quarta-feira, janeiro 11, 2006

Ode ao Fogo

Peguntar-me-às, porquê a ti?
Porque não à água, da vida
Da pureza e liberdade, símbolo;
Porque não ao vento, se ouvi
O belo sibilar da natureza caída;
Faleis acaso da terra, fica o Poeta fulo...

Ainda assim, pergunto eu, porque o faria...
Lembrando que dar preito à água vaticina
Um amor pela, (des)humana, existência,
A ela, para sempre confinado...
Ao vento? Deixas-me pasmado...
Sabeis acaso que desse cantado vento
Nada surge, nada vem... Senão tormento?

Será, enfim, de bom tom lembrar-te
As razões que me levam agora a cantar-te...
Simbolizas a morte, a dor, és afinal
Tudo o que em nós é mais real...
Temido por uns, por outros odiado;
És afinal, a triste sina deste fado.

Consagrei-me a tim em desespero, quando
Perdido no deserto vagueava sem destino;
Tempos conturbados em que o Amigo desejando
Me foi arrancada toda a alegria de menino..

Como ferro marcaste este teu servo,
Aparecendo como sempre, soberbo..
Um inferno terrestre a seus olhos criaste;
Bastou a ilusão que cruelmente lhe arrancaste.

E se hoje te componho esta humilde ode,
O faço por de mim te não poder expulsar...
Vou desaparecendo e amargamente me consumindo;
Os sonhos fugiram; pesadelos, uma horde...
Sinto apenas uma brasa, uma vontade de atear
Esse fogo que por Sua indiferença vai evoluindo.

Todos dizem, todos espalham ,
"O sonho comanda a vida".
De todos difiro, a todos quero contar
Que do Fogo vim, e ao Fogo hei-de tornar.

Sem comentários: