sábado, agosto 19, 2006

Sabes Zé, meu amigo, foi por saber que há pessoas como tu que eu entrei para o Partido, para esta grande casa da amizade. Quando te conheci, era eu tão pequenino, tão inocente, conheci o homem que há para lá da política, o homem para lá do director do jornal avante!. Aliás isso na altura pouco me dizia. Dizerem-me que dirigias o jornal Avante! ou dizerem-me que eras ministro da administração interna era para mim indiferente. A política passava-me ao lado. Não sei sequer, se na altura já teria completado a instrução primária. Mas lembro-me de estar sentado ao teu lado contigo a contares-me histórias de quando eras criança. Dizias-me que nem todas as crianças da minha idade tinham tido direito a ir à escola. E isso dava-me a volta à cabeça, talvez até ao estômago. Contavas-me que quando foste preso pela primeira vez tinhas tu 17 anos. E agora que os atingi, posso dizer que foste um herói. Quem com a minha idade, tua na altura, se atreveria a opôr-se ao regime fascista que nos escravizava? Eram outros tempos. E tudo o que me contaste desses tempos negros, um pouco mais que agora, fizeram-me crer num homem novo. Num homem que não explorasse outro homem. Num homem que tivesse direito à saúde, à educação, à liberdade, à cultura, à casa, à alimentação. Finalmente fiz da minha confiança em viver num mundo melhor uma acção. Juntei-me à Juventude Comunista Portuguesa. Receei por vezes a minha entrada. Tantas vezes que o nome comunismo e o partido são mal vistos ou mal representados. E descobri com o tempo que eram as pessoas mais bonitas, as mais trabalhadoras, as mais humildes, as mais sonhadoras e por oposição binária as mais imbecis que defendiam o comunismo. Hoje sei que não me arrependo. Não me arrependo porque há pessoas como tu. Que lutam pelo comunismo, pelo lindo comunismo, que é aquele de vivermos em harmonia para com a sociedade. Hoje sei que, e desculpem-me a relação, és assim por seres comunista. É o homem que faz o comunismo bonito, mas o comunismo quando está presente no coração dos homens também os faz bonitos. E és um homem bonito, Zé, meu camarada. És um homem muito bonito.

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