quarta-feira, novembro 16, 2005

A paz II

Criaram-te eterno, sem principio nem fim.
Apelidaram-te de ser supremo, misericordioso,
audaz, justo, onisciente, enfim, todo-poderoso.
Desejaram-te e matam e morrem por ti.

Morre um menino à fome e dizem ser teu filho, meu irmão.
Não quero eu outra coisa para meu irmão senão o melhor
E tu não tens outra forma de mostra por ele amor?
Senão, humilhando-o e cravando-lhe uma bala no coração?

Oh, deixa lá o teu poleiro e mostra-te perante nós
Enxuga-nos o olhar, fica com os pés na terra
E vê toda esta miséria, salva-nos com a tua voz
E acaba de vez com toda esta guerra.

Se existes e és paz e amor, vinho e pão
E com ternura caminhas sobre as águas,
Enche de vez de crença e fé o coração
De todas as pessoas por quem passas.

Não, não me faças sofrer, arder
Por dentro e revoltar-me contra ti.
Se recorro ao pensamento e lembro aquilo que vivi
Lamento por em ti não mais crer.

Regaram os campos com napalm, disseram ser por ti abençoados
Oh Deus, não sei quem são eles que por ti se deixam ser humilhados.
Desculpa se te abandonei e acreditei na razão do racional
Mas é da minha condição não louvar nunca o mal.

Adoramos-te desde a pré-história e desde aí nada evoluimos.
Não pudemos, és afinal a criatura que nos amarra
Somos, afinal, aqueles em quem espetaste a tua garra,
E amedrontados ainda te servimos.

Se podemos evoluir e ser livres? Sim.
Quando finalmente te aniquilarmos
Esquecer-te e de sangue frio te cravarmos
A mesma bala que fez daquela criança o seu fim.


João Lains Galamba 11ºA Nº11
Poderá mesmo haver paz enquanto reinar um ser que nem sequer existe?

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