Não penses em nada.

Sofreste derrota. Agora choras. E aconchegas-te nos braços de alguém. Já também choram contigo. Olhas para trás e sentes-te inferior. Que amargura, que revolta, que tédio a falta de vitórias nessa tua rotina da vida. Talvez nunca descubras que só perdeste porque tiveste, um dia, a ânsia de ganhar. Acreditaste que vencer era possível. E a vitória dos outros não passa duma derrota tua. Só vence quem vai para um jogo com esse desejo de ganhar. Só perde quem alguma vez ousou triunfar. Uma pessoa que se entrega sem vontade, sem desejos, sem vida, jamais saberá o que custa a derrota. Portanto, sempre que julgares que não foste suficientemente capaz lembra-te que isso foi só por teres estabelecido uma meta a ti próprio. Vive. Existe só por existir. E nunca te sentirás infeliz só por ter tido a triste ideia de querer ser feliz e sabê-lo impossível. Existirás com mais profundeza que aqueles que tentaram e que não conseguiram. Serás feliz sem o desejar, simplesmente porque ser-se feliz é não ter nada que desejar nem sequer essa felicidade que está por dentro do desejar nada desejar. E verás que a derrota que obtiveste não foi porque alguém te venceu, foi simplesmente porque julgaste possível estar no lugar do vencedor. Não o desejes. E sê contente ao não desejares sê-lo. E vence e triunfa na vida nalguma coisa. Nem que seja no não triunfar por não o querer fazer e consegui-lo de qualquer maneira. Perdeste-te nas entrelinhas ou no raciocínio? Só aconteceu porque pensaste alguma vez conseguir entender o que escrevi. Antes não o tivesses pensado. E estarias de acordo comigo mesmo sem saberes o que eu queria dizer. Agora não penses em nada. Em nada.